sábado, 21 de julho de 2012

A pedra


Quero reunir centelhas de sentimentos - acabarei tirando o que me sobrevive.
Depositarei em imediato - mesmo que minhas mãos calejadas e quase aleijadas demorem ao meu comando - num pequeno frasco vazio. Deixarei meu corpo sem vigia.
Enterrarei num bosque qualquer aquilo que me resta. A tempestade levará meu corpo, levará meu espírito, levará minh’alma... só sei que aquilo que me fez, estará seguro. E se porventura minh’alma sobreviver, ou por intermédio divino renascer, buscarei o frasco.
Fraco e sem juízo, estarei eu representado pelos restos. A esperança, talvez o único sentimento guardado, carregará-me pálido até a pedra mais segura. Sonhos e desejos puros terão mais sentido que de outrem, sorrisos e respiros ansiarei dá, mas mortos não riem nem respiram.
Pedirei uma coisa: depois de tudo, deixe-me eternizar-me ali, ó anjo, ó santo, ó Deus, se Tu existir! Mesmo que não seja eu mais, mesmo que aquilo não seja nada, sem valor, mesmo que queira me levar para um lugar macio e quente – deixe-me na pedra, pela eternidade, deixe-me na pedra eternamente, é meu sonho, meu fruto... digo isso bem vivo e consciente: deixa-me lá pra sempre!

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